quarta-feira, 16 de julho de 2014

Pontes

Um dia Porto Alegre, outro, Belo Horizonte. 
Quem poderia imaginar que a vida poderia mudar tanto. 
Quem poderia imaginar que você poderia mudar tanto?
Quando tive de partir, deixei tudo para trás em um exercício exaustivo e doloroso de desapego. Coube na mala apenas gratidão e a vontade de recomeçar.
Enquanto o avião levantava vôo, lágrimas involuntárias escorriam pelo rosto.
Quando o piloto anunciava o pouso em Confins, lágrimas involuntárias escorriam pelo rosto. Assim mesmo, sem explicação.
O apartamento estava a minha espera: vazio. Sem móveis e sem história. Ainda precisava fazer dele, um lar.
Caixas de papelão dão lugar a roupeiros e armários de cozinha. Um colchão a um sofá. Uma mesinha, a sala de jantar.
E os dias vão se somando.
Caminhadas me revelam o lugar para que eu possa me revelar a ele.
Aprecio o vento nos cabelos. O sol no rosto e a paz.
Não tenho nenhuma resposta. Mas também, tenho procurado fazer menos perguntas. Tudo que tenho é depositado no hoje.
E diria, talvez até com certa propriedade, que quando deixamos de nos debater nas escolhas, a vida nos auxilia a escolher.
E aos poucos o lar vai tomando formas, cheiros, histórias.
Em refeições me deparo com a minha família e o som deles acarinha a alma.
Tudo tem sido muito estranho e tudo muito comum. Todo começo parece mesmo ser difícil. Mas tem seus mistérios, encantos, descobertas e alegrias. 
O medo do novo, a magia de desvendá-lo e a recompensa por ter tido coragem.
Já tenho me perdido menos. Dormido mais. E apesar de ainda não me sentir em casa, já não me sinto mais tão turista. 
Digamos que agora passei a ser uma criança curiosa que faz diariamente algumas constatações. Tais como:
- precisamos ter muito cuidado com o que desejamos (ser do lar é a profissão mais ingrata e exaustiva que já trabalhei);
- mineiros não chegam até você. Mas se chegar neles são receptivos e amáveis; (mas é preciso aprender a dosagem do aperto de mãos e a não dar abraços  afetuosos de quem as conhece a vida inteira);
- que tenho sorte!
Eis o presente da vida. 
O mistério da fé e o milagre do amor. 



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