terça-feira, 27 de julho de 2010

Que sejamos loucos, mas não sejamos tolos de desperdiçar o que a vida vem nos presentear...

Que sejamos loucos, mas não sejamos tolos de desperdiçar o que a vida vem nos presentear...
Confesso que apesar de achá-lo lindo, desejá-lo, não estou pronta para ele, não estou pronto para o amor..pois meu amor é posse e obsessão... que ele venha quando couber em mim e eu souber entendê-lo e aceitá-lo tal qual ele merece.
E tudo me leva lembrar da poesia de Oswaldo Montenegro que diz: “Que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor e a outra metade também”...
O texto que me refiro se chama: METADE
Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca, porque metade de mim é o que eu grito, a outra metade é silêncio;
Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que triste;
Que a mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante, porque metade de mim é partida, a outra metade é saudade;
Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor, apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos, porque metade de mim é o que ouço, a outra metade é o que calo;
Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e paz que mereço;
Que a tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada, porque metade de mim é o que penso, a outra metade um vulcão;
Que o medo da solidão se afaste e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso que me lembro ter dado na infância, porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei;
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito e que o seu silêncio me fale cada vez mais, porque metade de mim é abrigo, a outra metade é cansaço;
Que a arte me aponte uma resposta mesmo que ela mesma não saiba e que ninguém a tente complicar, pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer, porque metade de mim é platéia a outra metade é canção;
Que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor
e a outra metade também.


domingo, 18 de julho de 2010

Imprevisível


Para aqueles incapazes de entender meus desejos, quanto mais a minha alma..
 Fabrício Carpinejar...


Cometa bobagens. Não pense demais porque o pensamento já mudou assim que se pensou. 
O que acontece normalmente, encaixado, sem arestas, não é lembrado. Ninguém lembra do que foi normal. Lembramos do porre, do fora, do desaforo, dos enganos, das cenas patéticas em que nos declaramos em público. Cometa bobagens. Dispute uma corrida com o silêncio. Não há anjo a salvar os ouvidos, não há semideus a cerrar a boca para que o seu futuro do passado não seja ressentimento. Demita o guarda-chuva, desafie a timidez, converse mais do que o permitido, coma melancia e vá tomar banho de rio. Mexa as chaves no bolso para despertar uma porta. Cometa bobagens. Não compre manual para criar os filhos, para prender o gozo, para despistar os fantasmas. Não existe manual que ensine a cometer bobagens. Não seja sério; a seriedade é duvidosa; seja alegre; a alegria é interrogativa. Quem ri não devolve o ar que respira. Não atravesse o corpo na faixa de segurança. Grite para o vizinho que você não suporta mais não ser incomodado. Use roupas com alguma lembrança. Use a memória das roupas mais do que as próprias roupas. Desista da agenda, dos papéis amarelos, de qualquer informação que não seja um bilhete de trem. Procure falar o que não vem à cabeça. Cantarolar uma música ainda sem letra. Deixe varrerem seus pés, case sem namorar, namore sem casar. Seja imprudente porque, quando se anda em linha reta, não há histórias para contar. Leve uma árvore para passear. Chore nos filmes babacas, durma nos filmes sérios. Não espere as segundas intenções para chegar às primeiras. Não diga “eu sei, eu sei”, quando nem ouviu direito. Almoce sozinho para sentir saudades do que não foi servido em sua vida. Ligue sem motivo para o amigo, leia o livro sem procurar coerência, ame sem pedir contrato, esqueça de ser o que os outros esperam para ser os outros em você. Transforme o sapato em um barco, ponha-o na água com a sua foto dentro. Não arrume a casa na segunda-feira. Não sofra com o fim do domingo. Alterne a respiração com um beijo. Volte tarde. Dispense o casaco para se gripar. Solte palavrão para valorizar depois cada palavra de afeto. Complique o que é muito simples. Conte uma piada sem rir antes. Não chore para chantagear. Cometa bobagens. Ninguém lembra do que foi normal. Que as suas lembranças não sejam o que ficou por dizer. É preferível a coragem da mentira à covardia da verdade.

(Fabrício Carpinejar)

sábado, 17 de julho de 2010

Desejo



Em uma sala com um tapete grande e peludo ela está deitada. Pela  janela de vidraças grandes entra um sol que ilumina toda a sala e aquece. Ele, está deitado em um sofá em frente ao tapete.
Ela, com pés descalços, apoia suas pernas esticadas na parede branca, fixando seus olhos ao teto. E ele, com ambas mãos apoiando sua cabeça lhe conta confidências. Eles falam, riam de suas bobagens, por vezes, se olham com sorrisos, enquanto seus olhos cúmplices compactuam seus segredos.
Ele lhe pergunta se quer beber algo.. ela diz que sim. Então ele pergunta o que ela gostaria de beber.. ela lhe dá de ombros como quem diz: tanto faz!
Ele sai e vai a cozinha apanhar algo.. ela levanta do tapete e chega a janela.. fecha os olhos e sente o sol iluminando sua alma... 
Sente então uma presença, parado atrás dela e vira-se.. Ele posicionou-se tão perto que ela chega a sentir sua respiração. Ele trazia em mãos duas taças e uma garrafa de vinho Merlot. Ela fitando-o apanha as taças enquanto ele lhes serve.. brindam, tomam o primeiro gole e comungam do mesmo prazer... o de estarem juntos.
Então ele senta, desta vez, no tapete. Coloca ao seu lado a garrafa. Ela senta-se a sua frente e lhe pede para terminar de contar sobre seu último encontro com uma de suas maravilhosas..

                                              ***
A garrafa do vinho já está quase vazia. Ela toma mais um gole e deita-se no tapete enquanto ele termina de lhe confidenciar como tem sido sua vida depois da separação e que tem muitas dúvidas do que fazer dali para frente... Então, ela se vira no tapete como os gatos que se aconchegam em um lugar mais quente, mais perto de alguém para aquecer-se... direcionando sua cabeça em frente a suas pernas, de barriga para cima, ela olhando o teto procura apenas ouvir suas confidencias. Ele larga a taça de vinho no chão e acaricia sua cabeça fazendo massagens.. .. ele vendo seus olhos fechados e seu pescoço arrepiado conclui que ela está gostando e continua.. então, ela sorri com os olhos fechados e lhe diz:
- coisa mais boa... é isso que tu anda fazendo com a mulherada que elas andam tudo enlouquecida atrás de ti? Faz massagem nelas?
Ele sussurra um humhum...
Ela abre os olhos para ver o que ele esta fazendo e eles sorriam um para o outro quando então ele inclina sua cabeça em sua direção e beija sua testa. Ela continua com o sorriso nos lábios, de olhos fechados enquanto ele beija sua bochecha, a outra, o queixo, e para o rosto perto do rosto dela, bem perto, a despertando. Ela abre os olhos.. seus corpos estão quentes, os olhos se miram, as almas conversam e se dizem sim. Ele a beija lentamente, demoradamente e intensamente - cheio de desejo, calor e paixão.
Ela então se levanta e fica de joelhos em sua frente, que está sentado sobre as pernas, passa os braços sobre os seus ombros e acaricia os seus cabelos e ele a sorri enquanto ela lhe olha serio..
Ela sente que ele está tremendo e lhe passa a língua no pescoço, ele entregue ao desejo, inclina a cabeça, ela beija então seu queixo, em beijos molhados e mornos, beija-lha a boca, enquanto suas mãos se encontram e se entrelaçam como um abraço.. Ela para o beijo. Suas respirações estão ofegantes, abrem os olhos... ela lhe acaricia o rosto, ele passa a mão sobre seu cabelo, como quem quer acordar, ela enxuga seus lábios.. lhe dá um beijo de selinho e lhe diz:
- Sempre soube que seriamos exatamente assim... por isso que optei, optamos, em sermos amigos...
Ela levanta, coloca seus sapatos que está ao lado dele. Ele a pega pela mão, como um pedido para ficar. Ela olha para suas mãos, percorre o olhar até os seus olhos, abaixando os seus, toma de volta a sua mão, apanha sua bolsa e sai batendo a porta... 



sábado, 3 de julho de 2010

Ligue o som...


Ao ouvir essa canção, viajei feito a amiga Zeca, talvez bem mais... 

Fechei os olhos e me imaginei com um vestido vermelho longo e meio abaloado. Pés descalços, maquilagem de quem vai a uma festa. 

Em uma sala de vidraças grandes, com assoalho de madeira feito tabuão, iluminada pelos raios do pôr do sol, sinto você chegando e me tomando com um dos seus braços pela cintura, com o outro procurando minha mão que ao se encontrarem, se entrelaçam e se apertam como um abraço.. 

sinto sua respiração ao meu ouvido, dançando na melodia da canção numa saudade eterna de tudo que fomos ou deveríamos ser. .. pedindo que fique comigo p a r a s e m p r e,  que me cerque com seu amor e me entenda... Entenda que preciso de você agora... 

o raios de sol foram embora.. veio o silêncio da canção e o vazio de você....